O QUE É FOLCLORE?

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FOLCLORE: HISTÓRIA

O QUE É FOLCLORE?

É o conjunto de manifestações populares de um determinado povo, ou seja, são aqueles elementos artísticos e culturais caracterizados por uma tradição passada de geração em geração através de representações práticas. Isso quer dizer que podem ser aprendidos tanto em escolas, desde a infância, quanto em casa, através da transmissão de experiência entre pais e filhos.

Assim o folclore pode variar tanto de um país para o outro como também entre regiões de um mesmo país. No caso do Brasil, esse fato é bem comum, devido a miscigenação de raças dos povos europeus, africano e ameríndio que predominam mais ou menos em cada uma das regiões.

Para explicar melhor a transmissão dos valores folclóricos é importante ressaltar não apenas a natureza das raças, como elementos fundamentais que ajudam a criar as manifestações folclóricas brasileiras. Entre elas se destacam o teatro, a dança, a música, o circo, as artes plásticas e os recursos de nossa língua como provérbios, trava-linguas, adivinhas, causos e fantasias.

ETMOLOGIA

A palavra Folk-Lore foi empregada pela primeira vez em 22 de agosto de 1846. Folk quer dizer povo; lore, o saber, o conhecimento, o costume. Fazendo a junção dessas duas palavras podemos ter um significado como o conhecimento ou costumes de um povo, transmitidos assim de geração em geração.

Para que essas manifestações não sejam diretamente inseridas na Industria Cultural como produto, algumas características devem ser seguidas e respeitadas, como por exemplo: a transmissão oral do boca a boca, evitando assim a propagação por meios eletromecânicos, como rádio, disco e livro.

Outras características está em ter grande abrangência em sua prática, ser transmitido com espontaneidade e liberdade e ainda, manter-se anônimo, ou seja, sem distinção de autor em qualquer que seja o tipo de manifestação.

ENTENDENDO O FOLCLORE
Maria Laura Cavalcanti

A palavra Folclore provém do neologismo inglês folk-lore (saber do povo) cunhado por Williem John Thoms, em 1846, para denominar um campo de estudos até então identificado como “antigüidades populares” ou “literatura popular”. Nesse sentido amplo de “saber do povo”, a idéia de folclore designa muito simplesmente as formas de conhecimento expressas nas criações culturais dos diversos grupos de uma sociedade. Difícil dizer onde começa e onde termina o folclore, e muita tinta já correu na busca de definir os limites de uma idéia tão extensa.

É o frevo, o chorinho, o xote, o baião, a embolada, mas será também o samba, o funk, o rock? É o natal, a páscoa, o Divino, o Boi-Bumbá, mas será também o desfile das escolas de samba? É o artesanato em barro, madeira, trançado, mas será também a arte de Louco ou de Geraldo Teles de Oliveira? Pensamos e pesquisamos um bocado sobre o assunto. Chegamos à conclusão de que mais importante do que saber concretamente o que é ou não folclore é entender que folclore é, antes de qualquer coisa, um campo de estudos. Isso quer dizer que a noção de folclore não está dada na realidade das coisas.

Ela é construída historicamente, e portanto a compreensão do que é ou não folclore varia ao longo do tempo. Para se ter uma idéia, aqui no Brasil, no começo do século, os estudos de folclore incidiam basicamente sobre a literatura oral, depois veio o interesse pela música, e mais tarde ainda, lá para meados do século, o campo se amplia com a abordagem dos folguedos populares. Para entender o folclore é preciso conhecer um pouco de sua história.

I

Os estudos de folclore são parte de uma corrente de pensamento mundial, cuja origem remonta à Europa da segunda metade do século XIX. Ao mesmo tempo em que procuravam inovar, esses estudos são herdeiros de duas tradições intelectuais que se ocupavam anteriormente da pesquisa do popular: os Antiquários e o Romantismo. Os Antiquários são os autores dos primeiros escritos que, nos séculos XVII e XVIII, retratam os costumes populares. Colecionam e classificam objetos e informações por diletantismo, e acreditam que o popular é essencialmente bom.

O Romantismo, poderosa corrente de idéias artísticas e literárias, emerge no séc. XIX em associação com os movimentos nacionalistas europeus. Em oposição ao Iluminismo, caracterizado pelo elitismo, pela rejeição à tradição e pela ênfase na razão, o Romantismo valoriza a diferença e a particularidade, consagrando o povo como objeto de interesse intelectual. O povo, para os intelectuais românticos, é puro, simples, enraizado nas tradições e no solo de sua região. O indivíduo está dissolvido na comunidade.

A trajetória dos estudos de folclore no Brasil mantém relações com os debates do contexto intelectual europeu. Essas duas tradições são incorporadas pelos estudiosos brasileiros que procuram também conferir cientificidade a seus trabalhos. Entre os pioneiros desses estudos no país, estão autores como Silvio Romero (1851-1914), Amadeu Amaral (1875-1929) e Mário de Andrade (1893-1945). Sílvio Romero é célebre pelas coletas empreendidas na área da literatura oral e pelo desejo, de origem positivista, de uma visão mais científica e racional da vida popular.

Amadeu Amaral enfatiza a necessidade de uma coleta cuidadosa das tradições populares, e empenha-se pelo desenvolvimento de uma atuação política em prol do folclore, visto como depositário da essência do “ser nacional”. Mário de Andrade procura conhecer e compreender o folclore em estreito diálogo com as ciências humanas e sociais então nascentes no pais. Para ele, o folclore, expressão da nossa brasilidade, ocupa um lugar decisivo na formulação de um ideal de cultura nacional.

II

A década de 1950 transforma o patamar em que se encontravam até então esses estudos. Ela marca o início de uma ampla movimentação em torno do folclore reunindo a sua volta nomes como Cecília Meireles, Câmara Cascudo, Gilberto Freire, Artur Ramos, Manuel Diégues Júnior. Institucionalmente, essa movimentação é articulada pela Comissão Nacional do Folclore, do Ministério do Exterior, e vinculada à UNESCO (organismo da Organização das Nações Unidas).

A Comissão é liderada por Renato Almeida, diplomata e estudioso da música popular. No contexto do pós-guerra, a preocupação com o folclore enquadra-se na atuação em prol da paz mundial. O folclore é visto como fator de compreensão entre os povos, incentivando o respeito das diferenças e permitindo a construção de identidades diferenciadas entre nações que partilham de um mesmo contexto internacional. O Brasil de então orgulhava-se de ser o primeiro país a atender à recomendação internacional no sentido da criação de uma comissão para tratar do assunto.

O conjunto das iniciativas desenvolvidas era designado pelo nome de Movimento Folclórico. A Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro (CDFB), criada em 1958 no então Ministério da Educação e Cultura, é o apogeu dessa movimentação. A Campanha é um organismo nacional destinado a “defender o patrimônio folclórico do Brasil e a proteger as artes populares”. Ela traz uma proposta de atuação urgente: no folclore se encontram os elementos culturais autênticos da nação, porém o avanço da industrialização e a modernização da sociedade representam uma séria ameaça. Por essa razão, a cultura folk deve ser intensamente divulgada e preservada.

A Campanha participa dos debates intelectuais do país em intercâmbio com as ciências sociais que se institucionalizam no mesmo período. Fomenta pesquisas sobre o folclore em diferentes regiões, bem como sua documentação e difusão através da constituição de acervos sonoros, museológicos e bibliográficos. Data dessa época o embrião do que viria a ser mais tarde o Museu de Folclore Edison Carneiro e a Biblioteca Amadeu Amaral, do atual Centro Nacional de Folclore Cultura Popular.

III

De lá para cá, os processos de modernização da sociedade se aprofundaram, a televisão entrou decisivamente no cotidiano nacional, e ao contrário do que supunha a Campanha em seus primórdios, o folclore não acabou. O país transformou-se econômica e politicamente. Mudaram também os ideais de conhecimento.

Como já diziam alguns folcloristas, o folclore nasce e cresce também nas cidades: é dinâmico, transforma-se o tempo todo, incorporando novos elementos. O campo dos estudos de folclore transforma-se também acompanhando a evolução do conhecimento no conjunto das ciências humanas e sociais. A noção de cultura não é mais entendida como um conjunto de comportamentos concretos mas sim como significados permanentemente atribuídos. Uma peça de cerâmica é mais do que o material de que é feita, e a técnica com que é trabalhada. Uma festa é mais do que a sua data, suas danças, seus trajes e suas comidas típicas.

Elas são o veículo de uma visão de mundo, de um conjunto particular e dinâmico de relações humanas e sociais. Não há também fronteiras rígidas entre a cultura popular e a cultura erudita: elas comunicam-se permanentemente. O compositor erudito Heitor Villa Lobos reelaborou musicalmente cantigas de ninar tradicionais. Muito freqüentemente, o enredo do desfile carnavalesco de uma escola de samba elabora numa outra linguagem temas eruditos. Na condição de fato cultural, o folclore passa a ser compreendido dentro do contexto de relações em que se situa.

Essa abordagem contextualizadora, que faz do objeto um veículo de relações humanas, é a proposta do Museu de Folclore Edison Carneiro, cuja exposição permanente, inaugurada em 1994, se pretende uma pequena mostra do que está vivo e se transformando no dia-a-dia. *A antropóloga Maria Laura Cavalcanti, Profª Drª do Depto. de Ciências Sociais/IFCS/UFRJ, ex-pesquisadora do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, participa atualmente da Associação de Amigos do Museu de Folclore Edison Carneiro.

FOLCLORE : OUTRA DEFINIÇÃO

O folclore é o conhecimento comum do povo, o saber popular sendo constituído por tradições, lendas, festas populares e costumes transmitidos de geração a geração. O Folclore é uma tradição, vivenciada entre o passado e o presente.

O termo folklore – folclore foi usado pela primeira vez por Ambrose Merton, onde os vocábulos da língua inglesa folk e lore (povo e saber) foram unidos, passando a ter um significado de saber tradicional de um povo.

O Folclore passou a ser utilizado para se referir às tradições, costumes e superstições das classes populares e posteriormente, para designar toda a cultura nascida das classes populares, dando ao folclore o status de história não escrita de um povo.

Com o desenvolvimento da tecnologia e da ciência, todas as tradições folclóricas passadas foram consideradas frutos da ignorância popular, mas no século XIX, com a conscientização de que a cultura popular poderia desaparecer, o folclore se espalhou por toda a Europa e hoje é difundido em todo o mundo.

DE UM MODO GERAL:

Região Sul

Danças: congada, cateretê, baião, chula, chimarrita, jardineira, marujada. Festa tradicionais: Nossa Senhora dos Navegadores, em Porto Alegre; da Uva, em Caxias do Sul; da Cerveja, em Blumenau; festas juninas; rodeios. Lendas: Negrinho do Pastoreio, do Sapé, Tiaracaju do Boitatá, do Boiguaçú, do Curupira, do Saci-Pererê. Pratos: churrasco, arroz-de-carreteiro, feijoada, fervido. Bebidas: chimarrão, feito com erva-mate, tomado em cuia e bomba apropriada.

Região Sudeste

Danças: fandango, folia de reis, catira e batuque. Lendas: Lobisomem, Mula-sem-cabeça, Iara, Lagoa Santa. Pratos: tutu de feijão, feijoada, ligüiça, carne de porco. Artesanato: trabalhos em pedra-sabão, colchas, bordados, e trabalhos em cerâmica.

Região Centro-Oeste

Danças: tapiocas, congada, reisado, folia de reis, cururu e tambor . Festas tradicionais: carvalhada, tourada, festas juninas. Lendas: pé-de-garrafa, Lobisomem, Saci-Pererê, Ramãozinho. Pratos: arroz de carreteiro, mandioca, peixes.

Região Nordeste

Danças: frevo, bumba-meu-boi, maracatu, baião, capoeira, caboclinhos, bambolê, congada, carvalhada e cirandas. Festas:: Senhor do Bonfim, Nossa. Senhora da Conceição, Iemanjá, na Bahia; Missa do Vaqueiro, Paixão de Cristo, em Pernambuco; romarias – destaca-se a de Juazeiro do Norte, no Ceará.

Região Norte

Danças: marujada, carimbó, boi-bumbá, ciranda. Festas: Círio de Nazaré (Belém), indígenas. Artesanato: cerâmica marajoara, máscaras indígenas, artigos feitos em palha. Lenda: Sumaré, Iara, Curupira, da Vitória-régia, Mandioca, Uirapuru. Pratos: caldeirada de tucunaré, tacacá, tapioca, pato no tucupi.

 

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OUTRAS PALAVRAS

 

O FOLCLORE

Das cantigas de ninar a personagens como o Saci, entenda o que são as tradições populares.

Se você pensa no folclore como algo distante, que faz parte do passado ou que se resume a festas típicas, crendices de áreas rurais ou personagens como saci-pererê e mula-sem-cabeça, pode repensar seus conceitos. Dinâmico, ele se renova o tempo todo, não está limitado geograficamente e pode revelar aspectos valiosos sobre um povo e sua história.

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Encontre na mata os personagens do folclore brasileiro e aprenda mais sobre eles
“Existem vários tipos de saberes. Na escola, temos o conteúdo das disciplinas. Mas há um outro tipo de conhecimento tradicional, de domínio comum, que é adquirido e transmitido pelo convívio social. Esse saber é rico e nos identifica”, explica Alberto Ikeda, professor de cultura popular e etnomusicologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp).

Modos de ser e de pensar

Também chamado de cultura popular tradicional, o folclore é o conjunto de práticas, histórias, tradições e formas de pensar que pertence a um determinado povo, foi disseminado oralmente e resistiu ao tempo.

Todos os grupos sociais, de qualquer lugar do mundo, independentemente do seu nível de desenvolvimento, têm seu repertório de práticas populares.

Por exemplo, quando recorre a um chá calmante que a avó costumava preparar, ensina ao filho a empinar pipa ou repete um ditado como “o pior cego é aquele que não quer ver”, um indivíduo está lançando mão dos chamados saberes populares. Todo mundo faz isso e, muitas vezes, esses costumes estão tão incorporados em nossa rotina, que não nos damos conta de que são oriundos dessa cultura popular.

Assim como o folclore revela qualidades interessantes de uma população, ele também pode mostrar características contestáveis. Um exemplo disso são as expressões de cunho preconceituoso. “Ainda assim, é importante atentar para isso e refletir a respeito. Só podemos modificar ou preservar aquilo que conhecemos”, pondera o professor Ikeda, especialista em cultura popular.

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Isso é folclore

Para que algo seja considerado folclórico ̶ seja um hábito, seja uma brincadeira, seja uma música, seja uma história etc. – ele precisa fazer sentido para um grupo, em um determinado contexto, e resistir ao tempo. A transmissão do saber acontece no convívio social, seja em casa ou na sociedade. “Muitas vezes, quando vai se conceituar o que é folclore, há uma tendência a valorizar o fenômeno em si e o conhecimento é apartado do praticante. Não dá para separar o grupo humano de seu saber. É preciso valorizar as pessoas que são responsáveis pela divulgação dessas informações”, alerta o professor Alberto Ikeda, da Unesp.

 

Outro aspecto que deve ser ressaltado é que o folclore se atualiza. Um trabalho de renda feito artesanalmente por uma comunidade local, cuja técnica foi transmitida por várias gerações, pode ganhar temáticas contemporâneas e também utilizar novos materiais, mas a essência permanece. O mesmo acontece quando surgem variantes de uma cantiga ou brincadeira.

O folclore também pode ganhar novas manifestações. Um exemplo são as frases dos para-choques de caminhão. Esse tipo de comunicação mostra a personalidade, reforça a identidade e os valores de um grupo específico.

Histórias para repartir amor

As clássicas histórias dos mitos brasileiros – como o saci, a iara, o boto – são recontadas há anos. Elas chamam atenção das crianças, despertando curiosidade e também provocando reflexão. Mas é importante que sejam contextualizadas para ampliar a compreensão dos pequenos.

Na lenda do saci, por exemplo, pode-se explicar que o personagem arteiro, que vive aprontando travessuras, surgiu da necessidade das pessoas de justificar uma distração ou arrumar um culpado para uma determinada situação (leia o nosso especial sobre personagens do folclore).

Além dos contos famosos, vale reunir as crianças e contar histórias de família, falar das brincadeiras da infância dos mais velhos, reproduzir quadrinhas e brincar de adivinhas. É dessa forma que esse tipo de saber se propaga e criamos espaço para a convivência.

“Contar histórias é repartir amor, demonstrar carinho e interesse por aquela pessoa. Ninguém conta uma história para quem não gosta”, completa o professor Alberto Ikeda.

http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/folclore-637243.shtml

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Prof. e Jornalista Nilceu Francisco